Nascida em 23 de setembro de 1970, a bióloga Silvania Santos complementa seus estudos com cursos de artes cênicas e cinema desde 1995. Cursou interpretação para teatro no Tablado, cinema com Walter Lima Jr e TV com Alexandre Klemperer. Estudou linguagem de cinema Joaquim Três Rios (efeitos visuais no cinema), Eduardo Aguilar (Assistência de direção), dentre outros.

Atuou como assessora pedagógica no projeto “Cinema-Escola” do Grupo Estação, no Rio de Janeiro. Fundou o projeto “Cineapreender”, em Belo Horizonte, que levava alunos de escolas públicas e privadas ao cinema e oferecia palestras e oficinas sobre a linguagem do cinema. Foi uma das fundadoras do grupo “A Tela e o Texto”, para reunir pesquisadores interessados na interface entre literatura e cinema, grupo este que hoje é um projeto de extensão da UFMG. Atuou no coral do Tablado e é integrante do grupo de samba Cristino e Cia. Além de atriz e cantora, é professora de biologia na Escola Parque e contadora de histórias na creche “Fazer Arte”. Também é autora do blog aeducadora.blogspot.com, um canal de discussão da educação - formal e não formal.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A Sociedade Precisa Ver

A cidade do Rio de Janeiro Brasil é palco de execuções sumarias e arbitrarias cometidas por agentes do Estado. Cada morte arrasta consigo a dor de quem fica afetando todo o seu círculo social especialmente a família e amigos. O documentário centra-se nas histórias destes sobreviventes mulheres em grande maioria que lutam por justiça e para saírem da invisibilidade.



‎1h 10min‎‎ - 16 anos‎‎ - Festival‎‎ - Legendado‎ 


Sessões

R. Voluntários da Pátria, 88, Rio de Janeiro - RJ, 22270-010
13:30  15:00  18:30

Adaptar é trair por amor

Relato da aula de Maria Camargo no curso Adaptação.

Faz parte da criação de um roteiro recorrer à obras pré-existentes, mas é exatamente isso que caracteriza a adaptação de uma obra. Muitos termos são usados quando se fala dessa técnica: a partir da obra, inspirado no livro, adaptado do texto, transposição da obra... O roteirista que pretende transformar uma história literária em um filme, busca uma possível interpretação, um sentido para o “real” apresentado no texo, se possível com clareza, mostrando mais que contando.

Seria justo comparar literatura e cinema?

Há quem considere a adaptação um trabalho menor que a escrita de uma obra original, mas vale lembrar que o roteirista que aceita o desafio de adaptar um texto para a tela precisa lidar com as diversas camadas de informações disponíveis em um material que já existe e enfrentar as críticas dos leitores. Alguns livros apresentam uma trama com fatos concretos alinhados e o roteirista pode limitar-se à repetição e ilustração do que está escrito. Entretanto, quando a literatura é subjetiva, abre-se um leque de possibilidade de interpretação para o roteiro que poderá ser bem diferente daquela que o leitor havia feito. Isso acontece porque a imagem imposta em um filme é muito diferente das imagens evocadas durante uma leitura, por isso o leitor costuma se sentir traído quando assiste a adaptação de um livro.


Um exercício para mostrar como as leituras são individuais: analisar uma obra que tenha diversas versões para o cinema como o livro Crime e Castigo de Dostoiévski que serviu de inspiração para filmes de diferentes propostas estéticas, inclusive o tão aguardado Nina:

Conduzindo a platéia


              Em uma das aulas que tive com David França Mendes, ele falou sobre a arte de conduzir uma platéia, lembrando que os primeiros roteiros de cinema não eram mais que uma lista de coisas que os produtores precisavam lembrar na hora da filmagem. Mas ao longo da história do cinema os roteiristas foram desenvolvendo estratégias para que o espectadores embarcassem na história.
Atualmente o roteiro é um recurso para a venda do projeto, daí a necessidade de escrever com zelo.

 Um texto sem capricho, sem acabamento, denuncia que o roteirista escreveu para se livrar dele.

              Isso acontece, por exemplo, quando todas as cenas são iguais: enquanto personagens conversam, coisas acontecem. Investir na qualidade da escrita pode trazer um novo colorido à cena. Antes de escrever, o roteirista deve ter clareza sobre o cinema que deseja fazer. Saber a razão de cada cena é importante até quando uma substituição é necessária, desde que mantenha a essência da idéia. Em “Corações Sujos” David temperou sua escrita facilitando inclusive o trabalho da figurinista quando ele escreveu:
“como se a simpatia se estendesse à roupa”. 


               Um roteiro deve ser comercialmente viável. Para David, os cinco primeiros minutos de um filme são decisivos na conquista do espectador porque é quando a chave de leitura da lógica do filme será apresentada. Em “O pecado mora ao lado”, por exemplo, um off estabelece que o personagem fala sozinho, assim esse recurso não causa estranheza. Nas cenas abaixo, de “Quero ser Jonh Moucovich” vemos que as  esquisitices que aparecem no início do filme dão o tom da narrativa. 


                 É fundamental que o roteirista saiba responder: para que serve a cena e cada um dos elementos que faz parte dela. Uma cena bem escrita terá o ponto focal, onde o personagem na berlinda ou o tema polêmico estará em evidência. Em cada cena é necessário indicar os personagens, os espaços e indicar as ações, de modo que fique clara a intenção: fazer rir, chorar, pensar...
O trabalho do roteirista requer a capacidade de enxergar além do conteúdo do filme para montar uma estrutura coerente e rica. Essa habilidade é construída com a bagagem cinematográfica e o nível de comprometimento para a pesquisa e para escrever com critérios definidos.

A cena muda quando mudamos o tempo, o lugar ou ambos.

                 Provocar uma reação emocional no público é o principal objetivo de um roteiro. O desafio dessa escrita é despertar a curiosidade para o ponto de clímax de cada cena, apresentando o resultado de uma ação seguida de nova cena. Para conquistar o interesse é importante escolher bem as imagens, as personagens e as falas, valorizando até a última palavra.

                Pensar um filme, começa com a definição do início, meio e fim de cada cena, se possível, buscando nessa trajetória um micro-clímax. Objetos que aparecem recorrentemente, diálogos que se repetem ou o uso do mesmo elemento com funções diferentes (os três usos da faca) são exemplos de estratégias úteis, mas que devem ser usadas com cautela. O uso do off por exemplo, tem sido desaconselhado quando outro recursos podem ser usado, sobretudo um off explicativo. Para Jorge Furtado o off deveria ser usado apenas quando a cena se sustenta sozinha - sem ele. Em seu famoso curta “Ilha das Flores”, o Off é usado contradizendo a ação, como acontece no filme “O amor à tarde” .
          O uso de elipses pode funcionar quando o impacto de uma cena é carregado para a cena seguinte.




quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A pequena contadora de histórias

A imaginação da minha filhota não tem limites. Ela ama contar histórias, inventar músicas e manipular fantoches. Segue a história do leãozinho, improvisada por ela e registrada - sem grandes recursos técnicos - por mim.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Correndo atrás" é o tema da conversa da escritora Thalita Rebouças.

logo quarta ás 16:00 2010 grande.
A escritora Thalita Rebouças é a convidada da próxima quarta-feira, dia 11, do programa Quarta às Quatro, quando vai conduzir a conversa “Correndo atrás”. Mediadas pelo curador do programa e professor da UFRJ Vitor Iorio, as conversas deste ano integram o painel Livros Vivos: Histórias Originais, tema central da quinta temporada do Quarta às Quatro. A cada semana, um narrador ligado à imprensa, ao ensino, à cultura ou às artes é chamado a contar uma história original. Cada convidado compartilha com a platéia um relato inédito sobre alguma experiência singular vivida por ele no campo profissional ou pessoal.

 Conversa com Thalita Rebouças ─ Carioca e jornalista por formação, Thalita Rebouças desde criança se autodenominava “fazedora de livros”. Como jornalista, trabalhou na Gazeta Mercantil, no Lance!, na TV Globo e na FSB Comunicações. Começou a carreira de escritora em 1999. Em 2001, quando seus livros começaram a fazer sucesso, decidiu abandonar a carreira de jornalista e investir na vocação de escritora. Publicou nove livros dedicados ao público adolescente, entre eles Fala sério,mãe e Traição entre amigas, todos de muito sucesso. Em 2005, começou a assinar a coluna Fala Sério! na última página da “Revista Atrevida”. Em 2009, Thalita deu o primeiro passo rumo à sua carreira internacional, lançando seus primeiros livros em Portugal. Para setembro está previsto o lançamento de mais um título no exterior:Tudo por um Pop Star. Este ano passou a apresentar no programa Video Show, da TV Globo, o quadro “Fala sério, Video Show”. No Esporte Espetacular, programa da mesma emissora, começou a apresentar o “EE de bolsa”, um quadro falando de futebol por quem não entende nada do assunto.
O Quarta às Quatro acontece toda quarta-feira às 16 horas no Auditório Machado de Assis, na Biblioteca Nacional. O acesso é pelos jardins (Rua México s/nº) e a entrada é franca.

Produção ou reprodução cinematográfica?

O trabalho do roteirista de cinema depende fundamentalmente de editais públicos, mas esses programas não atendem à demanda dos autores brasileiros e costumam privilegiar os profissionais especialistas na "cultura do Caô e a do super star": quem sabe escrever uma boa justificativa ou tiver nomes poderosos, leva a grana e faz o filme. Os projetos apresentados pela produtora que já teve êxito de público em filmes anteriores também entram na lista das prioridades. Essas são algumas das razões que fazem os filmes ficarem cada vez mais parecidos. Ontem estive no Odeon para assistir "O bem amado" e nos traillers percebi duas tendências: representação da violência ou o reprodução da estética televisiva. A sensação de dèjá vu é inevitável... Como então ampliar o espaço para novos cineastas ou projetos diversificados de modo a arejar a produção e criar critérios mais justos que os estabelecidos na seleção dos roteiros dos editais que já existem? Podemos começar pensando em como são selecionados os membros das comissões que avaliam os projetos de roteiro e brigando para que o critério seja a qualidade da estrutura e do ritmo da narrativa e não pela grandiloquencia dos temas, como aqueles que representam fatos históricos ou fazem adaptação de livros conceituados. Quando  interessar aos selecionadores a história que o roteirista vai contar e como ela será contada, nossa produção cinematográfica dará um salto.



quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Glória Perez: a vida na novela

Recentemente, li na Trip uma entrevista com Glória Perez que abalou meu preconceito sobre as telenovelas. Me rendi à história dessa escritora que transformou o folhetim em um poderoso instrumento de diálogo: as obras de Glória extrapolam a função do entretenimento, introduzindo discussões relevantes em um produto de grande alcance popular. Ontem fui conferir o encontro com Glória Perez no programa Quarta às 4 na Biblioteca Nacional e esse é o relato do que ouvi nesse encontro.

Gloria chegou com um enorme sorriso e mostrou faz juz ao título de "Livro vivo", contando as histórias que marcaram as suas obras.

Ela contou que fazia mestrado em História quando foi convidada a ser colaboradora de Janete Clair. Nessa experiência, ela aprendeu a escrever de acordo com o ponto de vista da autora principal. Assim, ela começou a exercitar a capacidade de ver como o outro, o que facilitou a entrada nos personagens que cria.

Partido Alto foi sua primeira novela autoral, mas foi em Barriga de Aluguel que ela inaugurou um estilo marcante em suas obras: a insersão de causas sociais. Aos poucos, ela foi conquistando o público e a crítica e em 2009, sua novela
Caminho das Índias foi considerada a melhor novela do mundo.

Antes disso, Glória encarou diversas críticas, como quando foi chamada de delirante ao trazer a internet para as telas, quando a comunicação em rede não era popular.
Glória percebeu que o que ela escrevia poderia ser mais que entretenimento ao observar o quanto o público era influenciado pelas novelas. Se a população pode mudar o modo de falar e vestir influenciado pelos personagens era possível propor discussões e observar a resposta imediata da audiência. Ao colocar uma personagem no bairro Encantado, no Rio de Janeiro, Glória tratou de perguntar para a comunidade: como a novela poderia colaborar para melhorar a qualidade de vida daquele lugar? Ao mostrar aquela realidade e constatar que após a novela a comunidade ganhou o ônibus, Glória percebeu a força que sua escrita poderia ter.

Os temas abordados geralmente surgem a partir de uma observação. Em Explode Coração, por exemplo, a discussão das crianças desaparecidas foi introduzida na trama quando ela passava na Cinelândia e via mães com fotos de crianças. A personagem que vivia o drama colaborou para que mais de 100 crianças fossem encontrados, durante essa novela. A trama também ajudou a mudar a demora na procura dos desaparecidos. Até então, a polícia só procurava a criança após 48 horas do desaparecimento. É claro que a novela não solucionou o problema, mas colaborou para que as mães que vivem o drama do desaparecimento de um filho tivessem um atendimento humanizado.
Ao dar visibilidade às fotos das crianças desaparecidas, a novela sensibilizou empresários que passaram a ajudar na divulgação das fotos, facilitando o encontro dos desaparecidos para além do período da novela. Assim, o folhetim nas mãos de Glória pode, ao mesmo tempo, promover paixões e mudar a vida de pessoas, inclusive popularizando assuntos que costumavam ficar restrito à academia.

Seguindo o princípio de dar espaço e voz à quem não tem, Glória decidiu abordar os dramas da esquizofrenia e da dependência química. Para isso, o trabalho de pesquisa incluiu ouvir esses grupos e transmitir o que eles queriam dizer. No caso da dependência, ela ouviu que o grande erro das campanhas anti-drogas era tratar as drogas como algo ruim, porque, como isso não condiz com a realidade, não convencia. Ela teve que contar com a autorização das autoridades para criar uma trama onde os dependentes não fossem representados como pessoas sem caráter e ao longo da história mostrou que as drogas minavam o caráter dos personagens. A idéia era que os depedentes passassem a ser vistos como doentes que precisam de apoio e tratamento.

Ao visitar instituições que cuidam de doentes mentais para compor o personagem esquizofrenico, Glória percebeu que a rejeição social, que dificultava inclusive a conquista do emprego, era um problema a ser ressaltado. Glória criou um personagem para diferenciar o psicopata de um doente mental quando aprendeu que um psicopata não tem nenhuma emoção: ele é só racional, enquanto o louco se afoga na emoção de tal maneira que ele não consegue se controlar. Como resultado, Glória recebeu vários depoimentos de psicanalistas afirmando que a novela ajudou no combate ao preconceito e que as família passaram a admitir a doença mental, viabilizando o tratamento.

Ao ser perguntada sobre as razões de buscar temas em culturas distantes, Glória afirmou que na novela O Clone ela discutia a pretensão da ciência ao fazer a clonagem humana porque isso lhe trazia curiosidade, assim como a produção das quimeras: experiências científicas que misturam espécies diferentes. Ao expor esses homens que brincam de Deus, ela buscou como contraponto uma cultura que é muito submissa à Deus.

Ao ser indagada se houve arrependimento em alguma de suas abordagens, Glória afirmou que só escreve sobre temas que despertam paixão.  Ela usa a escrita para organizar o pensamento sobre os temas que para ela são curiosos. Assim, não se arrepende das coisas que escreveu porque eram coisas que ela gostaria de refletir.

Sobre a relação ficção e realidade, Glória espera que colaboração dela como novelista seja a de promover a mistura da realidade com a ficção e que essa foi a maneira que encontrou para unir suas duas paixões: história e escrita. A formação como historiadora colabora com o modo respeitoso que ela usa para representar diferentes culturas.

Glória explicou que nunca colocou dramas pessoais em suas tramas porque não teria o distanciamento que julga necessário para escrever.

Uma estudante do ensino médio sugeriu que ela inserisse em suas novelas os problemas da educação pública e Glória gostou da idéia. Ela já discutiu a falta de limite que costuma haver dentro das escolas e nessa ocasião recebeu diversas cartas de pais e professores que vivem problemas semelhantes, mas nunca tratou esse tema de frente. Escrever sobre a escola é caro para ela porque na educação de Glória, seus professores eram como uma extensão dos pais, bastava um olhar para que ela respeitasse.

Glória chamou a atenção dos alunos presentes para o fato de que o folhetim como qualquer outro trabalho pode ser usado para reverter em algum benefício social.

A Gafieira é outra marca registrada das novelas de Glória: "a dança de salão exercita o convívio com o outro. Nessa dança, como na vida, é fundamental a sincronia com o parceiro ou a parceira".

Glória nos contou que nem tudo sai como o planejado. Em Pecado Capital por exemplo, a trama teve que ser alterada porque os atores que faziam o par protagonista brigaram.


Embora Glória reconheça que o espectador possa aprender com a novela ela não acredita que a televisão possa substituir a escola, mas pode propor um assunto para ser discutido em escala nacional. O cinema, teatro e o livro por serem caros no Brasil não têm a força de alcance de uma novela. "Se a novela educar ela faz algo mais".

Além de trazer discussões, Glória também procura inovar no desfecho dos triângulos amorosos, fugindo das histórias clássicas de Romeu e Julieta. Ela fez isso ao ousar testar a história do amor construído. Quando ela viajou para a Índia, aprendeu uma lição que quis compartilhar: “Nós casamamos com água fria e durante o casamento, a gente faz a água ferver. Vocês casam com a água fervendo que, com o tempo só faz esfriar."

Quando foi perguntada se pretende abordar a história da filha em uma novela, Glória explicou que a única história da vida real que adaptou foi a de Euclides da Cunha. Por ética, ela não trata o drama das pessoas porque respeita a dor do outro.

Glória gosta de surpreender o público porque acredita que quando uma história que é previsível, o público se sente desapontado e desmotivado. Ela faz uma pesquisa de campo com ênfase antropológica: procura conviver com as pessoas para perceber nuances que enriquecerão seus personagens. Glória tenta fazer isso destituída de preconceitos para captar os estranhamentos e os valores das pessoas que deseja retratar.

Considerando a novela como um recorte da vida, Glória procura revelar diferentes culturas ao mesmo tempo em que tenta equilibrar os diversos núcleos. "No mundo você conhece pessoas que estão presas no século passado e outras que estão um século adiante. Gosto dessa diversidade."
Glória não costuma pensar no ator quando está escrevendo a novela. Ela pensa primeiro no personagem e depois decide em que ator ou atriz essa personagem ficará melhor. Ela acredita que tem atores que funcionam melhor com um texto de um autor, por isso a reincidência de certos atores em suas obras. Glória prefere atores que se entregam totalmete para entrar na pele dos personagens que ela cria e admira aqueles que conseguem se fazer sempre diferente enquanto atuam. Para ela, se o ator criticar, não funciona.

Glória também contou como consegue sintonizar a equipe promovendo reuniões e trabalhos de campo com os profissionais envolvidos, para que eles mergulhem na realidade que a novela expõe. Ela também compartilha com os atores as gravações que costuma fazer dos depoimentos para que eles fiquem imersos naquela realidade.

Algumas campanhas que ela levou para as novelas não foram bem recebidas pela audiência. O corte do beijo gay, por exemplo, exemplifica como o preconceito muda o destino de uma trama. A intenção de Glória era mostrar um beijo de amor, mas ela aprendeu com essa experiência e driblou o público ao retomar o tema: fazendo as pessoas se apaixonarem por um personagem e só depois revelando que ele era homossexual. Assim, não houve rejeição. Por isso, ao tratar temas polêmicos, procura se cercar de cuidados. "Há pessoas que pensam que só falar sobre drogas, estamos estimulando o uso".
Embora Glória adore fazer histórias de época como Ilda Furacão e Desejo, lamentavelmente não teve oportunidade de escrever uma novela de época. Quando isso acontecer, provavelmente teremos uma visão da Glória  historiadora, e a realidade não ficará chapada como costuma acontecer naquelas novelas onde todo mundo pensa, se veste e fala do mesmo jeito. "Se no futuro um arqueólogo encontrar o fóssil do Falcão, não pode tomar como regra geral o mode dele se vestir".
No final, eu e minha amiga Sônia Moreira fomos tietar Glória. Afinal, como aprendi com Nelson Rodrigues, "só os imbecis têm medo do ridículo!"



P.S. O programa Quarta às 4 acontece sempre às quartas-feiras no auditório da Biblioteca Nacional e conta com a curadoria de Vitor Iorio.

Atenção professores: duas turmas de ensino médio da rede pública são convidadas a participar da discussão. Levem seus alunos para participar das próximas discussões.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mais coisas que aprendi na aula de David França Mendes

Sabe por que as escolas de cinema costumam oferecer simultaneamente as disciplinas Roteiro e Montagem? Roteirista e montador trabalham com a estrutura do filme: o primeiro vê a história, na ordem em que ela acontece, antes de o filme existir enquanto o segundo, atua após a filmagem fazendo um ajuste fino, plano a plano.

O roteiro de cinema apresenta um formato próprio, com cabeçalho, texto corrido, identificação do personagem, diálogo e descrição da ação.




O tempo do roteiro é sempre o presente, embora o diálogo possa usar qualquer tempo. Veja o caso de "Ventre Livre" de Ana Luiza Azevedo, Giba Assis Brasil e Rosângela Cortilhas:

                   produção: Casa de Cinema de Porto Alegre




CENA 1 - SALA DE AULA
Uma menina assistindo a uma aula de Geografia. A professora
mostra no quadro um mapa do Brasil. Uma turma só de meninas
presta atenção. No seu caderno, num mapa da América do Sul
mimeografado, a menina pinta o Brasil de verde e amarelo. Entre
outras alunas, a menina vê a professora girar um globo e
localizar o Brasil. Toda a cena em leve slow.
                   Música leve, nostálgica.
                   TEXTO 1 - LOCUÇÃO FEMININA
                   Desde criança, no colégio, eu aprendi que o
                   Brasil é um país grande: o quinto do mundo em
                   território, o sexto em população. Eu aprendi a
                   ter orgulho de viver no celeiro do mundo, o
                   país do futuro, o gigante adormecido: a décima
                   economia do planeta.
                   SOM DA SINETA


Há um mito de que o roteirista não deve detalhar a cena porque assim estaria dirigindo e não roteirizando. Mas os roteiros de diretores costumam ser ainda mais detalhados simplesmente porque as idéias podem ser esquecidas. Assim, todos os dados que facilitem o trabalho da equipe de filmagem são bem-vindos em um roteiro. Definir a idade, os traços relevantes da aparência física ou do modo de vestir do personagem facilita o trabalho de produtores de elenco e figurinistas. Cuidado com a vaidade: dominar a linguagem do cinema não significa que o roteirista defina, por exemplo, os tipos de planos usados. O emprego de termos como “Fade out” e “Fade in” em alguns casos arredondam a cena e facilitam a compreensão, mas a “direção” da cena só deve ser feita quando importante para a dramaturgia ou para ampliar a cinematografia da escrita..

Saber se um elemento é ou não relevante não é tarefa fácil. Uma dica é retirá-lo do texto: se a cena perder o sentido é porque esse elemento deve ser indicado. Cabe ao roteirista descrever o suficiente para que os personagens, o espaço e todo elemento acústico importante sejam apontados de modo concreto. Tudo o que se escutará e será visto no filme, deve estar no roteiro, mas essas descrições não garantem que irá acontecer exatamente como previsto – fatores como limitação de orçamento e estilo de direção podem limitar. Há roteiristas que só definem a trilha sonora se a escolha da música for decisiva para a trama. Isso porque a trilha requer despesas com direitos autorais que podem até inviabilizar o projeto do filme. Por outro lado, indicar a música, ou um trecho dela, pode tornar a proposta mais clara aos leitores.

Não é comum que no roteiro apareçam abstrações como a sensação do personagem embora os sentimento e as lembranças possam ser construídos ao longo da história.

A quantidade de dinheiro disponível em uma produção cinematográfica pode limitar o poder de decisão do diretor. Por isso, há os que prefiram filmar seus próprios roteiros em baixo orçamento em busca do chamado filme “autoral”.


O roteiro em documentário facilita planejar e vender a proposta, além de prever materiais e falas que facilitarão o trabalho da montagem.

Ler roteiros é um exercício importante para os roteiristas. Roteiros publicados em livros nem sempre respeitam as normas de formatação, por isso o melhor é ler roteiros disponíveis em sites. No site
Roteirosonline.com.br há também dicas de concursos de roteiros.