Alguns educadores marcam pra sempre. Um deles é Alexandre Klemperer que me trouxe luzes importantes sobre a arte de representar. Como diretor de TV, ele é reconhecido por sua sensibilidade para que o ator saia da superficialidade. Ele considera importante garantir ao elenco as condições favoráveis para a imersão no universo da personagem.
Alexandre me ensinou que o ator deve buscar estímulos em leituras, filmes e principalmente da observação atenta ao cotidiano representado ampliando a visão sobre o roteiro e a personagem. Ele aconselha que os atores aproveitem ao máximo as informações obtidas em workshop que costuma acontecer antes da novela para que os atores interpretem com propriedade.
Como na TV a emoção está no close - é o rosto do personagem que conta a história - é fundamental que o ator confie no diretor para que o trabalho seja produtivo. A ansiedade, a insegurança transparecem no semblante. Quanto mais tranquilo e autêntico o ator conseguir estar, maior a segurança para atuar e improvisar.
A margem para a improvisação depende do autor: nem todos os autores de novela permitem que os atores coloquem falas novas no texto, mas quando isso acontece, os cacos imprimem maior naturalidade no texto. Segundo Alexandre, cerca de 90% dos comandos que chegam ao ator vêm de uma afirmativa, ou seja, uma ordem clara do diretor. Mas isso não impede que alguns comandos partam de interrogativas. Por exemplo, quando o diretor pergunta ao ator: o que você acha que o seu personagem faria nesse caso? Esse convite para a improvisação é um estímulo à imaginação dos atores e à análise dos fatores condicionantes dos personagens. Nesse caso, a bagagem cultural do ator pode oferecer ricas possibilidades de atuação.
Alexandre me fez pensar que não quero estar no grupo de atores que não se deixam dirigir e fazem sempre a mesma coisa. No universo cada vez mais concorrido, quero saber ouvir o que o diretor está dizendo, aliás, ouvir não apenas o diretor: "Ouça o que os outros personagens dizem!" Na cena e na vida, ouvir é tão importante quanto falar.
Alexandre considera que a prática teatral pode interferir na interpretação realista. Na TV é importante reduzir ao máximo a "teatralidade”, buscando a “Casualidade “. Também é importante fugir da superficialidade: mas isso exige esforço e pesquisa. Aprendi que quem tem que chorar ou rir é o público, não o ator. Por isso quando o ator chora compulsivamente, o máximo que consegue é a auto-piedade do público. Para que atinja a ressonância da emoção do ator no personagem o ator deve tomar para si as palavras, a emoção, as experiências de vida do personagem.
Alexandre lembrou que as situações da cena também interferem na atuação do ator. Portanto uma boa cena não é responsabilidade apenas do ator, mas cabe ao profissional que atua cuidar para que a sua interpretação convença: o público e os atores que contracenam com ele. Com a frase da fonoaudióloga Glória Beuntenmuller "a palavra é o tato da visão" Alexandre ressaltou que a palavra pode transformar e por isso deve ser usada com responsabilidade. As vezes o ator tem a preocupação de falar bonito, mas isso pode apenas gerar desconfiança: "Está muito bonito para ser verdadeiro”. Melhor que falar bonito é falar algo verdadeiro. Como exercícios para os atores ele sugere a leitura troca-troca, onde um ator troca de texto com o outro para que a cena seja percebida de fora do seu personagem.
O uso de marcadores de texto para ressaltar a fala do personagem que estamos representando foi criticado. Essas marcações nas falas pode indicar falta de relação com o outro, de compromisso com a fala dos outros personagens.
Para conquistar a dinâmica na interpretação Alexandre sugere que o ator decore o texto, de modo articulado, o mais rápido possível, sem nenhuma pausa. Assim, na medida em que o texto é assimilado, o rítmo é conquistado. Mas ele lembra que é preciso falar como gente normal. O ator deve interpretar como quem conta o trajeto de casa para o trabalho, sem empostar a voz ou usar recursos que dão a impressão de um declamador. Alexandre ressalta ainda que a pontuação gráfica é totalmente diferente da pontuação oral. Por isso é preciso estudar o texto para identificar frases vão levar à outra e identificar como o personagem está: Contente, arrasado...
Para dar a sensação de verdade, é possível simular que o pensamento está sendo criado. O ator pode procurar palavras enquanto fala, tomando o cuidado para não arrastar o texto. É como se ele estivesse pensando no sinônimo que iria usar para substituir uma palavra no texto para passar essa sensação.
Alexandre lembrou que o diálogo é uma constante interrrupção dos discursos, por isso vale sobrepor uma fala a outra reproduzindo o que acontece naturalmente nas línguas latinas.
Tudo isso aprendi no curso de "Atuação para TV" que Alexandre ofereceu no IAB, em uma turma que deixou saudades!
obg por compartilhar, tava querendo saber sobre o workshop dele. pena q nao poderei no momento$$....
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