Nascida em 23 de setembro de 1970, a bióloga Silvania Santos complementa seus estudos com cursos de artes cênicas e cinema desde 1995. Cursou interpretação para teatro no Tablado, cinema com Walter Lima Jr e TV com Alexandre Klemperer. Estudou linguagem de cinema Joaquim Três Rios (efeitos visuais no cinema), Eduardo Aguilar (Assistência de direção), dentre outros.

Atuou como assessora pedagógica no projeto “Cinema-Escola” do Grupo Estação, no Rio de Janeiro. Fundou o projeto “Cineapreender”, em Belo Horizonte, que levava alunos de escolas públicas e privadas ao cinema e oferecia palestras e oficinas sobre a linguagem do cinema. Foi uma das fundadoras do grupo “A Tela e o Texto”, para reunir pesquisadores interessados na interface entre literatura e cinema, grupo este que hoje é um projeto de extensão da UFMG. Atuou no coral do Tablado e é integrante do grupo de samba Cristino e Cia. Além de atriz e cantora, é professora de biologia na Escola Parque e contadora de histórias na creche “Fazer Arte”. Também é autora do blog aeducadora.blogspot.com, um canal de discussão da educação - formal e não formal.

domingo, 18 de julho de 2010

Na redação, menos é mais

 Consegui uma vaga no disputado curso adaptação, literatura e cinama, na Caixa Cultural e esse é o relato da aula do pernambucano Marcelino Freire, autor de livros como "Era o dito",  "Contos negreiros" e "Os Cem menores contos brasileiros do século". 

Marcelino é apaixonado por textos que dizem muito, usando poucas palavras e é especialista em ensinar a arte de escrever com concisão e  clareza. 

Marcelino começou analisando vários microcontos e apresentou características que conferem a esses textos o status de literário. Para Marcelino, um texto literário é aquele que fere ao ser lido. Marcelino nos contou como foi picado pela literatura quando leu, aos nove anos, "O Bicho" de Manoel Bandeira

O primeiro microconto analisado foi o de Augusto Monterroso:

"Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá."

Quantas interpretações são possíveis para esse dinossauro? Essas interpretações conferem ao leitor a possibilidade de voar ao encontro de uma segunda história.

Nos microcontos, como na literatura, interessa o que não está escrito. Como é o caso desse texto de Ernest Hemingway:

"Vendem-se: sapatos de bebês
nunca usados."

Resta-nos a sombra da dúvida: quem é esse bebê? 

Marcelino Freire nos deu várias dicas para escrever bem:

  • Evite usar um sistema literário que não te pertence: tire a gravata para escrever;
  • Reconheça as suas deficiências: se não tiver fôlego para escrever grandes períodos, opte por frases curtas;
  • Prefira os travessões quando for usar diálogos. As aspas podem confundir o leitor, principalmente se você esquecer de fechá-las;
  • O título e o uso de reticências merecem atenção, porque são elementos literários;
  • Defina a alma dos personagens porque é ela quem dará vida e clareza ao seu texto;
  • Escrever é desenhar na tela: um espaço entre linhas e fontes agradáveis tornam a leitura agradável; 
  • Busque o olho do leitor: dispondo elementos importantes do texto no lado esquerdo da página.
  • Ao apresentar seus textos, não esqueça de colocar o seu nome para evitar que a sua produção se transforme em domínio público.

Marcelino, que já foi revisor de textos, apontou algumas pragas recorrentes na escrita:
- o uso do ponto de exclamação ou interrogação seguido de: "exclamou ele" ou "perguntou ele";
- o excesso de advérbios e adjetivos que tornam o texto falso;
- os pretérito mais que perfeito ou verbos no infinitivo (a pular, a gritar).

Para Marcelino, o autor deve procurar a "respiração de afogado" e escrever sobretudo o que ele escuta. Ele também recomenda que o texto seja lido em voz alta para facilitar o corte dos excessos.

Para os que pretendem lançar o primeiro livro, Marcelino adverte:  livro não é um depósito: "escritores estreantes adorariam que seu primeiro livro fosse uma antologia". Analise seus textos de forma crítica, buscando entender o que os contos ou poesias que você escreveu têm em comum.


Marcelino encorajou a turma a escrever e ler microcontos de apenas seis letras. Ao ouvir a produção da turma ele destacou que escrever pode ser um jogo que, por ser divertido, pode vencer bloqueios. Para ele, a literatura se vence na distração.  Que tal se expressar através da escrita? Não se esqueça de fugir das formalidades!



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